Páginas

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Nem todo sonho é de Deus

Sonhos

Sonhos são atividades mentais que ocorrem durante o sono. A maioria dos sonhos ocorrem em conjunto com rápidos movimentos dos olhos, donde se chamar a esta fase REM (Rapid Eye Movements), um periodo que ocupa, tipicamente, 20 a 25% do tempo de sono. Pensa-se que as crianças sonham durante cerca de 50% do sono. Sonhos durante os periodos não-REM diz-se que ocorrem no sono NREM.
Os investigadores do sono dividem-no em estádios, definidos pela actividade eléctrica dos neurónios representada por ondas num electroencefalograma (EEG). O registo faz-se ligando electrodos na superfície do crânio. Os estádios no sono ocorrem em sequência e voltam para o estádio 1 e sono REM cerca de 90 minutos após adormecermos. Estes ciclos repetem-se durante o sono com o periodo REM ficando cada vez mais longo. Tipicamente, uma pessoa tem 4 ou 5 periodos REM durante uma noite, durando cada entre 5 a 45 minutos. Existe contudo algumas evidencias de que o sono REM surgiu antes do sonho e que os dois são independentes.1
O estado REM é um estado neurologica e fisiologicamente activo. Quando uma pessoa está num sono profundo não há sonho e as ondas (chamadas ondas delta) ocorrem 3 por segundo. No sono REM, as ondas ocorrem cerca de 60 a 70 por segundo e to cérebro gera cerca de cinco vezes mais electricidade do que no estado acordado. A pressão arterial, as batidas do coração, a respiração, etc podem mudar dramaticamente durante o sono REM. Visto não haver causas fisicas externas para estes estados, o estimulo tem de ser interno, i.e., noi cérebro, ou externo e não-fisico. Esta ultima explicação--os sonhos são uma passagem para o paranormal ou o sobrenatural--parece sem qualquer valor, apesar de ser muito antiga. Cada um dos seguintes pode ter contribuido para este erro: sonhar com pessoas mortas, sonhar que estamos em lugares distantes ou a viajar no tempo, sonhos que parecem proféticos, sonhos que são tão estranhos, curiosos ou bizarros que estão mesmo a pedir uma interpretação paranormal.
A atividade cerebral durante o sono é curiosa. Enquanto sonhamos, não só experimentamos o   equivalente a halucinações, algumas das quais nos classificariam como psicoticos se as tivessemos acordados, mas tambem sentimos que nos movemos fisicamente e agimos como se o corpo se movesse. Mecanismos no cérebro protegem-nos durante o sono das actividades motoras que poderiam levar a ferir-nos ou ferir outros. Ou seja, a maioria de nós está paralizado durante o sono. Porem, algumas pessoas sofrem de um problema neste mecanismo, que não impede esta actividade motora. Estas pessoas falam, andam , etc (sonambulos) e são um perigo para si próprias e para os outros. Essas pessoas não saem dos corpos, mas saem das suas camas durante o sono.
Outra curiosidade da actividade cerebeal durante o sonho é que quase todos são esquecidos. A amnésia é a regra. Isto não se deve a nada paranormal ou sobrenatural, mas a uma codificação fraca. A memória depende da codificação dos dados da experiência. Codificar depende das conexões entre partes do cérebro, que por sua vez dependem das conexões na experiência. Um facto com forte carga emocional é mais provável de ser recordada que outra sem essa carga emocional porque as memórias emocionais são registadas numa parte do cérebro e as visuais noutra. O que as liga são as conexões neuronais. Podemos recordar sonhos se acordamos logo após ele ocorrer. Mesmo assim, se não o codificamos fazendo algum esforço, é provável que o esqueçamos. Algumas pessoas levantam-se e escrevem o sonho. Outras ficam deitados e criam algumas associações. A mais fácil é dar um titulo ao sonho e uma descrição. Por exemplo, sonha que é perseguido por um urso polar até entrar numa biblioteca e intitula-o como "Pesquisar o Urso Polar." Volte a adormecer e é mais provável que recorde o sonho lembrando-se do titulo.
Talvez o aspecto mais curioso do sonho seja que a maioria de nós não tem consciencia de que sonhamos enquanto estamos a sonhar. PET scans durante o sonho mostram reduzida actividade do cortex prefrontal durante o sono REM e isto pode explicar diversas caracteristicas do estado sonho.
O cortex préfrontal reside junto da frente do cérebro e é onde o comportamento e a auto-consciência reside. Não tendo actividade nesta região, uma pessoa pode não compreender que factos bizarros ou impossiveis no sonho são irreais. Isto pode explicar distorções na percepção de tempo do sonhador, a incapacidade de reflectir sobre o que ocorre e o esquecimento que normalmente se segue ao acordar.3


Existem ainda os que pensam que os sonhos são passagem para vidas passadas. Outros pensam que os sonhos que temos se devem aos medos dos nossos antepassados. Temas universais como o ser perseguido ou cair parecem vir desde os nossos tempos como caçadores e recolectores. Temos esses sonhos porque os nossos antepassados eram perseguidos por tigres dente-de-sabre e dormiam nas árvores. A prova desta crença é mínima, se é que existe, mas pode-se defender que a forma (não o conteudo) destes sonhos se devam a um desenvolvimento evolucionário ligado ao exercicio de comportamentos instintivos necessários à sobrevivência.
Se o estado de sonho é uma passagem para algo, é-o provavelmente para os medos e desejos pessoais atuais. Assuminos que os sonhos teem um propósito, mas é mais provável que esteja enraizado nesta vida que em qualquer outra. Qualquer teoria do sonho tem de tentar explicar porque é que o cérebro estimula as memórias e as confabulações que produz. É muito provável que os sonhos sejam o resultado de activações eléctricas que estimulam memórias localizadas em diferentes partes do cérebro. O porquê do cérebro estimular e confabular apenas as memorias permanece um mistério, apesar de haver várias possiveis explicações. Explicações em termos do paranormal e do sobrenatural não são tão plausíveis como as que se limitam a mecanismos biológicos e emocionais ligados à actividade cerebral.
Uma hipótese para os ritmos do sono é que são um modo do cérebro desligar o cortex de sinais sensoriais. Quando dormimos, os neurónios do tálamo impedem a penetração de informação sensória para o cortex.6 Isto dá-lhe a possibilidade de repousar. Outra hipótes é que o sonho desempenha um papel no processamento das memórias, especialmente as emocionais. Durante o sonp REM, as amigdalas, que teem um papel na formação e consolidação das memórias das experiências emocionais, estão bastante activas.7 Uma teoria relacionada é que os sonhos são "os cães de guarda da psique" (Baker). Os sonhos são mecanismos que informam e guiam as nossas sensações e emoções. Em resumo, esta teoria defende que os sonhos são um modo de exprimir os nossos desejos e medos que, porq qualquer motivo, não exprimimos quando estamos acordados. Se isto é verdade, segue-se que apenas alguem intimo de quem sonha pode tentar interpretar um particular sonho. Os sonhos são algo muito pessoal e falam à vida emocional específica do sonhador. O "mais seguro guia para o significado do sonho é o sentimento e julgamento de quem o sonha, que, bem no fundo de si, conhece o seu real significado" (Baker). Esta teoria parece basear-se no facto de que a maioria dos sonhos se relacionam com o que aconteceu no dia antes ou dois dias antes, e reflectem a vida e preocupações actuais de quem sonha, incluindo sentimentos não resolvidos. Esta teoria tambem implica que a interpretação dos sonhos pode desempenhar um papel significativo na auto-descoberta. Podemos ter ansiedades ou desejos que só os sonhos podem revelar.
A maioria de nós não tem dificuldade em encontrar exemplos de "sonhos de ansiedade" ou de "desejo de concretização" na nossa experiência. Podíamos não ter consciência dos nossos desejos ou medos até o sonho os revelar. Por vezes os nossos sonhos simbólicos são tão claros que não necessitamos de ajudar para os interpretar. Outros. são tão estranhos, irracionais ou bizarros, que não lhes encontramos qualquer sentido. Procuramos outros que se afirmam como especialistas em interpretação de sonhos para nos ajudar a revelar o sentido oculto dos deles. Estes devem ser particularmente cuidadosos em não impor a sua leitura nos sonhos dos outros. Por exemplo, o sonho referido acima, do urso polar, pode ser interpretado de diferentes modos, mas só eu e duas pessoas estão na posição de o interpretar "correctamente." Não duvido que haja diferentes interpretações plausiveis. Mas a "correcta" é uma que tem sentidor para o sonhador. Era um sonho assustador.
Existem algumas pessoas, contudo, que experimentam coisas muito mais horriveis, e que as sonham regularmente (Sacks). O porquê do cérebro aterrorizar o seu dono deste modo está para lá da compreensão. Este sonhar obsessivo não tem mais valor que o comportamento obsessivo-compulsivo. Tais pessoas não teem só pesadelos, teem medo de adormecer. Precisam de um bom terapeuta, mas não de um interpretador de sonhos. Se podem ser ajudados é a controlar os seus sonhos. Existem vários métodos para isso, a maioria dos quais envolve preparação visual ou auditiva anterior ao sono. Alguns terapeutas afirmam sucesso tratando os pacientes com o que se chama "desordem de stress post traumatico." Alguns pacientes afirmam ter sido ajudados a vencer os pesadelos repetitivos com o sonho lucido. Nenhum foi ajudado tratando os sonhos como uma passagem para um nivel superior de consciência.

Links
    Alcock, James E. Science and Supernature: a Critical Appraisal of Parapsychology (Buffalo, N.Y.: Prometheus Books, 1990).  Asserinsky, E. & Kleitman, N. "Regularly occurring periods of ocular motility and concomitant phenomena during sleep," Science, 1953, 118: 361-375. Baker, Robert. "Prophetic Dreams," in The Encyclopedia of the Paranormal ed. Gordon Stein (Buffalo, N.Y.: Prometheus Books, 1996) pp. 553-560.  Coren, Stanley. Sleep Thieves: An Eye-Opening Exploration into the Science and Mysteries of Sleep (The Free Press, 1997).  Farady, Ann. The Dream Game (New York: Washington Square Press, Pocket Books, 1985). Hines, Terence. Pseudoscience and the Paranormal (Buffalo, NY: Prometheus Books, 1990).  Hobson, J. Allan. The Dreaming Brain; How the Brain Create Both the Sense and the Nonsense of Dreams (Basic Books, 1988).  Sacks, Oliver W. An anthropologist on Mars : seven paradoxical tales (New York : Knopf, 1995).  Schacter, Daniel L. Searching for Memory - the brain, the mind, and the past (New York: Basic Books, 1996). Fonte:  http://www.skepdic.com/brazil/sonho.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário

VIDEOS DO MINISTÉRIO AVIVA